Machismo

As séries pelas quais somos tão apaixonados, constantemente trazem personagens que vivem conflitos interessantes e complexos, muitas vezes próximos de nosso dia a dia, como são os de Grey’s ou até os mais fantasiosos como Lost. Como eu acredito tudo na vida é um aprendizado, e aprender com os erros alheios é uma vantagem, observar e analisar essas situações em séries tem a vantagem de que você não precisa se sentir mal por julgar e condenar certo personagem, afinal, ele não existe.

Para começar o que me motivou a escrever sobre esse tema foi um episódio recente de Friday Night Lights, onde duas personagens bem populares e queridas dos fãs passam por situações semelhantes e têm comportamento totalmente opostos.

Lyla Garrit, que na primeira temporada era a namorada ideal, a filha perfeita, um modelo de virtude, entra em decadência após transar com o melhor amigo do namorado recém paraplégico.

Julie Taylor, filha do casal perfeito, mimada pelos pais, estudiosa, obediente, amorosa, se envolve com o doce zagueiro Matt Saracen e formam o casal perfeito.

No fim da temporada, ambas passam por decepções semelhantes com seus pais. Lyla descobre a traição conjugal do pai e vê sua família desmoronar com o divórcio dos pais. Julie vê o pai dando prioridade para a vida profissional e indo morar em outra cidade, enquanto a mãe se prepara para ter outro filho.

Na segunda temporada, vemos o que cada uma resolveu fazer com os limões que a vida lhes ofereceram. Lyla, surpreendentemente, se converte a uma religião e passa a ser o “esteio” de sua família, distribuindo gentilezas e sendo compreensiva com o pai alcoólatra. Julie passa de garota doce à rebelde sem causa. Mal criada com os pais, ignora a nova irmã, começa a trair o namorado.

Nos fóruns da vida, pipocam discussões sobre as duas. Lyla, duramente criticada por que se tornou uma religiosa. Julie, ardorosamente defendida por ser uma adolescente.

Lyla e Julie têm diferença de idade de dois anos, ou seja, ambas são adolescentes. Mas por que ser duro com uma e brando com outra? Pelo motivo vergonhoso que infelizmente ainda mancha a nossa civilização em pleno século XXI: Machismo.

Lyla e Julie cometeram o mesmo pecado, traíram o namorado. Julie é julgada com brandura por que não foi para a cama com ninguém. Lyla é tachada de vadia por ter cedido a um desejo antigo por uma pessoa querida num momento difícil de sua vida. Nenhuma das duas agiu corretamente. Traição é algo desonesto, com a pessoa que está com você e com você próprio. Mas é errar é humano. O decepcionante é ver meninos e pasmem meninas também, do século XXI julgando uma mulher por fazer sexo, enquanto na mesma série, o cara mais popular é justamente o garanhão do time, aquele que pega todas. Ele é considerado “o cara” e ninguém o chama de vadio. Fico revoltada com esse tipo de situação, por que essas pessoas, com certeza levam esse julgamento para suas vidas e as mulheres ao longo dos tempos já foram injustiçadas demais por assumirem suas vontades e seus destinos.

Torço para que Julie se encontre, que descubra que ser como sua mãe é uma honra e não motivo de desespero, que enxergue o quanto seu pai é especial e o namorado que perdeu é uma raridade. Torço ainda para que Lyla continue seu caminho de descoberta, se torne uma pessoa melhor (concordo com a maioria de que ela é uma chatinha) e assuma seus sentimentos pelo Tim, que também gosta dela, e trate de ser feliz independente da opinião machista que a cerca, tanto na série quanto nos fóruns. E torço principalmente para que essas pessoas de mentes pequenas encontrem a luz e passem a enxergar a vida como ela é – não em preto e branco, mas que tons de cinza são mais freqüentes, afinal ninguém é totalmente mau e ninguém é totalmente bom.