* Post originalmente publicado aqui.
Ai, ai, ai, ai... esse episódio centrado no milionário Hurley é praticamente a continuação dos temas abordados no episódio do brotha Desmond. Primeiro, foi um papo de destino, premonição e predestinação; agora, o causo é superstição. Até que ponto uma superstição pode ser verdade e até que ponto ela pode influenciar os caminhos da sua vida? Seria a superstição um instrumento nas mãos do destino, trabalhando soberbo na construção de nossos caminhos?
Pessoas supersticiosas podem passar a vida fugindo de determinadas situações que possam lhe trazer azar, mas eventualmente acabam deparando-se com um momento decisivo no qual têm de enfrentar esse medo, seja ele qual for. É como se a vida tentasse mostrar que não há regras, não há fórmulas para se viver. A vida tem que ser vivida, simples assim.
Os não-crédulos gabam-se de fazerem seu próprio destino, sua própria sorte e por muitas vezes experimentam os amargos rumos da vida. Talvez seus momentos de satisfação sejam ainda mais intensos do que os de qualquer outra pessoa. Não é uma questão de Carpe Diem, nem de "foda-se tudo", é uma questão de ter as rédeas de seu destino em suas próprias mãos. Ou não. (Vamos caetanear a coisa de uma vez...)
Sorte X Azar. Mais uma vez estes conceitos confundem-se com o destino, afinal sorte e azar podem trabalhar a favor dele ou contra. Hurley considera-se uma pessoa azarada, tudo ao redor dele dá errado, tragédias acontecem e ele atribui essa falta de sorte à seqüência de números que o fez um ganhador de loteria, tornando-o muito rico. Seu flashback praticamente martela essa idéia repetidas vezes, de que Hurley se considera azarado por causa dos bad numbers, porém o faz para que prestemos atenção ao que Hurley diz, para que levemos a sério o que ele pensa.
O epi começa com uma cena tocante entre um Hurley ainda criança e seu pai, de mochila nas costas, pronto para dar o fora e abandonar a família. O pai ainda tenta iludí-lo, dizendo que volta logo, para que o pequeno não sofra tanto, mas é visível que ele se sente menosprezado pelo fato de que seus pais acham que ele não percebe o que de fato está acontecendo com sua família. Como forma de compensar sua ausência, o pai lhe oferece um doce, ao que Hurley responde dizendo que sua mãe pode se zangar por estar comendo guloseimas fora de hora e é aí que percebemos onde começa essa relação doentia que Hurley tem com a comida: a forma compulsiva com que come é uma forma de substituição de um pai ausente. Um hábito nada saudável que ele carrega para o resto da vida e justifica a causa de sua obesidade, portanto, como um problema psicológico.
Um ponto importante sobre a personalidade do Hurley, que é evidenciado tanto no flashback quanto nos eventos da Ilha, é seu poder de superação. No flashback, ele bate de frente com a mãe, demonstra personalidade, não quer o pai interesseiro dentro de casa depois de tantos anos só porque agora estão ricos. E acima de tudo, ele quer descobrir a verdade sobre aqueles números, mesmo com todos a sua volta lhe dizendo que isso não faz sentido, mostrando perseverança e auto-confiança. Na Ilha, ele coloca os bonitões Jin e Sawyer pra se mexerem e fazerem a velha Kombi da Dharma funcionar. Faz até mesmo o deprimido Charlie se arriscar e buscar atingir o next level, desafiando a morte (e o destino por tabela). Hurley desaparece de vez com qualquer estereótipo de "gordinho tapado e inútil" que possa lhe parecer de primeira vista.
Hugo trava uma batalha interna sobre o que ele verdadeiramente acredita. A princípio, parece se tratar de uma superstição com os números, pois ele diz repetidamente que estes números lhe trazem azar e a todos a seu redor. Mas, Hurley mostra um certo amadurecimento sobre isso; ele quer sair do casulo, quer trocar o disco e vê a oportunidade de fazer isso ao chamar Charlie para a missão quase-suicida de fazer a Kombi funcionar. Aquela cena ladeira abaixo foi muito emocionante, por mais piegas que tenha sido. E muitos podem pensar: de que vai servir aquela Kombi? Bem, eu respondo: vocês nunca fizeram algo simplesmente pelo desafio de conseguir concretizá-lo? E esta experiência em si se deve unicamente à força de vontade de Hurley, que de tanto repetir para si mesmo conseguiu provar que realmente ele faz sua própria sorte.
Ou não ;)
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